Metaverso para todos: como isso é possível? - Vinicius Marchese
Metaverso para todos: como isso é possível?

Está sendo realizada esta semana em Nova Iorque a NRF Retail’s Big Show 2023, o maior evento de inovação do mercado do varejo no mundo. O encontro reúne o que há de mais novo no ramo da tecnologia e inovação e pode inspirar muito mais do que o setor comercial e de serviços. O poder público pode – e deve – se beneficiar do metaverso, da inteligência artificial e do universo digital para diminuir a burocracia, aperfeiçoar o relacionamento com o cidadão e, claro, contribuir no desenvolvimento das nossas cidades.

Existem cinco eixos principais que são fundamentais para que o serviço público, no Brasil, possa estar integrado às novidades que são apresentadas no mercado de tecnologia. O primeiro deles, sem dúvida, é a necessidade de conectividade do nosso país. Sem a abrangência total do 5G em nosso território, corremos o risco de ficarmos de fora de muitas soluções inteligentes não só no que tange ao desenvolvimento econômico, como também soluções de saúde pública e educação.

O segundo eixo que é muito importante é a conexão entre a realidade virtual e a “realidade real”. O segundo termo, apesar de parecer redundante, pode ser compreendido como o mundo físico. O que vivemos fisicamente pode ser espelhado e aperfeiçoado no metaverso. Por isso, precisamos usar a tecnologia e a Inteligência Artificial como um complemento da nossa realidade, na compilação de dados demográficos, na análise de perfis sócio-econômicos e, a partir desta conexão, que já é chamada de “figital” (físico e digital), teremos respostas mais rápidas para questões sócio-econômicas que levariam anos para serem avaliadas.

Em um momento em que se urge um salto na nossa produtividade e desenvolvimento para recuperação econômica – das contas públicas e da sociedade – temos que investir em hiperautomação. Quando citamos este termo, certamente vem à cabeça uma mega indústria – aos moldes de uma montadora automobilística com mil robôs trabalhando – não é verdade? Mas aqui podemos falar sobre a hiperautomação no serviço público: investir em softwares que, a partir de uma base de dados sobre os mais diversos segmentos da nossa sociedade, possam melhorar a prestação do serviço público com agilidade, assertividade e totalmente desburocratizado.

O quarto ponto que é importante destacar aqui é a generalização do digital. Não é possível que em 2023 ainda tenhamos uma dissociação, como se o digital fosse um universo paralelo. Essa generalização, que já faz parte das gerações que estão se formando profissionalmente nos últimos anos, precisa também abranger as gerações que foram formadas no “analógico”. Como isso é possível? Com o poder público transformando digitalmente os seus serviços e processos e, em paralelo, utilizando a mão de obra já digitalizada para preparar aqueles que ainda não estão familiarizados com o metaverso e o conceito figital. 

Por último, e tão importante quanto, não podemos deixar de citar a economia verde, que envolve a geração de energia por fontes limpas, renováveis, além de soluções para aliar preservação ambiental com desenvolvimento econômico. E, neste ponto, o poder público como regulador do mercado energético, por exemplo, é o principal agente como guia do que pode ser transformador: na redução de custos, na geração econômica e, por incrível que pareça, na preservação do meio ambiente – pauta obrigatória para qualquer projeto que busca credibilidade atualmente.

A transformação digital é constante e deve ser enfrentada como obrigatória por todos nós. É por meio dela que vamos otimizar o nosso tempo pessoal e profissional, ter mais qualidade de vida e, também, diminuir as desigualdades e promover mais justiça social. A tecnologia é um caminho democrático que deve ser abraçado por todos aqueles que buscam prosperidade e desenvolvimento. O que estamos vendo na NRF deste ano não é o metaverso como “substituto” do potencial humano. Muito pelo contrário, a tecnologia é a mola propulsora para que possamos produzir melhor e, claro, viver melhor, enquanto seres humanos, enquanto sociedade, enquanto profissionais, empreendedores e agentes públicos.

Precisamos fazer com que o metaverso faça parte da realidade do estado e suas autarquias, e só assim deixaremos de lidar com a tecnologia como algo “opcional”, como um caminho do futuro. Só assim a inteligência artificial e a transformação digital farão parte, efetivamente, de um presente que cada vez abrange mais e mais pessoas.

Vinicius Marchese, engenheiro e presidente do CREA-SP.