Quinta revolução industrial: as engenharias como engrenagem do desenvolvimento econômico e social - Vinicius Marchese
Quinta revolução industrial: as engenharias como engrenagem do desenvolvimento econômico e social

As engenharias, em suas mais diversas e crescentes áreas de atuação, são a mola propulsora do desenvolvimento industrial, tecnológico e econômico desde que o mundo é mundo. E, se hoje não há desenvolvimento econômico descolado de responsabilidade ambiental, cabem também às engenharias não só se adequarem à nova realidade, mas também serem precursoras de soluções inteligentes que possam tirar o mundo do colapso já previsto.

Na primeira Revolução Industrial, há quase 300 anos, a humanidade viu como revolucionário o uso do carvão mineral como gerador de energia a vapor nas indústrias. Na segunda Revolução, 100 anos depois, o petróleo e a eletricidade foram protagonistas. Em ambos os marcos históricos, o desenvolvimento estava atrelado à degradação do meio ambiente por meio da exploração de combustíveis fósseis, de fontes esgotáveis e geradoras de poluição. Não é possível que, diante de todo o conhecimento que já temos sobre energias limpas e renováveis, não consigamos dar um “cavalo de pau” diante do colapso ambiental.

Quando voltamos o olhar para o nosso Brasil, então, aí que as coisas ficam ainda mais evidentes. Como explicar um país continental como o nosso, com disponibilidade solar em praticamente todo o ano, ter apenas 4,1% da fonte utilizada na nossa Oferta Interna de Energia Elétrica (OIE)? Além disto, também somos uma nação que pode se utilizar – e muito – da força dos ventos, sobretudo no litoral, e hoje isso só faz parte de cerca de 11% da OIE, contra mais de 40% de fontes fósseis, como o petróleo e o carvão natural. 

Se nós temos tanta disponibilidade energética limpa, temos que, por meio do nosso potencial humano, fazer com que esta disponibilidade natural se transforme em oferta real para nossa população. Como isso pode ser possível?

Primeiro, com incentivo à produção de pesquisa dentro do âmbito acadêmico das engenharias. Temos que não somente formar profissionais tecnicamente capazes de lidar com as tecnologias existentes, mas também fazer com que novas tecnologias sejam desenvolvidas por eles: para diminuir custos, para democratizar o acesso, para tornar energias limpas mais próximas da realidade das pessoas. Isso é mais do que possível se por meio dos nossos conselhos profissionais, mediarmos parcerias público-privadas para o segmento.

Em segundo lugar, é preciso que as mais diferentes frentes de engenharia – civil, ambiental, elétrica, mecatrônica, da computação, de minas, agronômica, de produção, mecânica – tenham a responsabilidade ambiental como algo dogmático dentro de suas condutas. Tudo o que produzirmos, todos os projetos que executarmos, cada ideia que por nossas mãos surgirem, devem ter uma responsabilidade muito além do que os preâmbulos da lei ditam. Precisamos construir uma cultura em que o resultado principal de uma obra, de um protótipo, de um programa, seja a sua funcionalidade e, impreterivelmente, a convivência harmônica e de degradação próxima de zero ao meio ambiente.

Por último, e tão importante quanto, precisamos de uma reforma legislativa no que tange às energias renováveis, desburocratizando, criando incentivos, guiando as instituições para a implementação programática e obrigatória de fontes renováveis de energia de responsabilidade ambiental em todas as suas instâncias.

Por que não tornarmos obrigatório o aproveitamento de água da chuva em todos os projetos de construção civil – e criarmos incentivos para isso?  Por que não tornar obrigatória a construção de uma usina de energia solar em cada novo bairro ou empreendimento que surgir? Por que não lutarmos por linhas de crédito tanto para construtores, indústrias, quanto para famílias, para popularizarmos o uso da energia eólica e solar? Não há motivo para não implementarmos todas estas mudanças. Aliás, não só não há motivo para deixar de implantar estas transformações, como o único caminho para existirmos como humanidade é fazendo de cada um destes pontos uma realidade.

A missão das engenharias, enquanto ciência, enquanto profissão, enquanto vocação encarnada por seres humanos, é fazer com que qualquer fonte de energia e qualquer ação do homem que possa a vir a desencadear na degradação ambiental e esgotamento de recursos naturais sejam completamente abolidos.

Um fóssil é aquele resto ou vestígio de animais ou vegetais que viveram há centenas de milhares de anos e não existem mais. Precisamos fazer com que não haja sequer um fóssil de desenvolvimento sem equilíbrio ambiental. Só assim vamos conseguir evitar o colapso ambiental mundial e ser engrenagem de uma quinta revolução industrial sustentável e equilibrada.

Vinicius Marchese, engenheiro e presidente do CREA-SP.